O Bando da Madrugada
Crônica sobre os ruídos que ultrapassam as paredes e a paciência.
Por Ubiatá Meireles
Li uma frase há tempos que nunca me saiu da cabeça: “Vizinho que incomoda é pior que praga do Egito.” E, nesta madrugada, às 2h50 do dia 5 de abril, vi essa máxima se cumprir com toda a sua precisão.
Enquanto a cidade dorme e o silêncio deveria imperar, um espécime raro — que teima em desafiar a lógica da civilização — decide que é hora de dar início a um ritual barulhento, ruidoso, quase tribal. Age como se ainda habitasse uma caverna, em tempos em que a lei não passava de um grunhido mais forte.
E o pior: vive em apartamento.
O que fazer quando se depara com esse tipo de “hominídeo moderno”? Nada. Resta apenas o espanto e a tentativa de entender como alguém, em pleno século XXI, ainda consegue ignorar a noção básica de convivência.
Enquanto você, que não incomoda, tenta dormir, ele e seu “bando” dançam sobre a lógica, desrespeitam o relógio e zombam do bom senso.
E pensar que os homens das cavernas, ao menos, não jogavam lixo da janela, nem precisavam ser lembrados de que o espaço coletivo exige respeito.

Tenho colecionado cenas como essa. Dariam um livro. Mas me contento com esta breve crônica — talvez ela sirva de espelho, ou ao menos de desabafo.
Afinal, o que me resta senão ser o incomodado da vez? Esperar, com a dignidade dos civilizados, o bando se calar para que a madrugada volte a ser madrugada.
E quanto aos primatas urbanos... que continuem perdendo, aos poucos, a razão e a moral.