Ainda estamos aqui
A cerimônia do Oscar 2025, no último domingo, fez com que muitos brasileiros, inclusive eu, ficassem assistindo a um evento que há tempos perdeu um pouco essa visibilidade aqui em nosso país. Claro que havia uma expectativa enorme na premiação da nossa atriz Fernanda Torres, o que não aconteceu, mas levamos pela primeira vez, o prêmio de melhor filme estrangeiro.
Com surpresas, homenagens e piadas, essa edição foi longa por tradição, e o vencedor da noite foi o filme Anora, que levou cinco estatuetas. O nosso “Ainda estou aqui” brilhou e continua brilhando nas telonas mundo a fora, mas ele divide seu protagonismo com uma personagem que não aparece, propriamente no filme. A música tema, “É preciso dar um jeito, meu amigo” vem sendo citada com a mesma proporção, e explodiu nos streamings da vida após a estreia do longa de Walter Salles. Cantada por Erasmo Carlos, a canção foi escrita em uma parceria entre ele e Roberto Carlos, e foi lançada em 1971 durante a ditadura militar – mesmo ano do assassinato do deputado federal Rubens Paiva, tema central do filme.
Em recente depoimento, Roberto falou que a música foi feita em alusão às atrocidades cometidas pela ditadura militar no Brasil, numa noite em que ele e Erasmo estavam compondo e conversando sobre as questões gerais do país naquele momento.
Não podemos esquecer que o Brasil ganhou a maior premiação do cinema mundial com uma história puramente brasileira. Uma história real, sofrida, de resistência e força, o que caracteriza o nosso povo. E a música tornou-se um dos símbolos desse filme tão premiado porque fala sobre uma resposta aos crimes e barbaridades cometidos durante esse período tão tenebroso de nossa história.
Agora, 54 anos depois de ser gravada a faixa, além de estar nos créditos do filme, “É preciso dar um jeito, meu amigo” é exibida também em uma das cenas iniciais. E a gravadora Universal Music Brasil soltou recentemente que, no Instagram, foram feitas mais de 160 mil publicações com a música.
Isso mostra que “ainda estamos aqui”: que essa letra que soa como uma extensão da contradição da protagonista, que tenta fingir que tudo está sobre controle - mas que realmente precisamos estar atentos para que esse episódio lamentável de nossa história não venha a se repetir. E que mais questionamentos sociais possam ser debatidos através da arte – unindo entretenimento e conhecimento de seu povo sobre sua nação.
