Vida real
O livro da vez que estou lendo é um clássico da literatura portuguesa.
Já conhecia a história, inclusive já tinha visto a versão cinematográfica, uma adaptação brasileira e que fez muito sucesso. Estou falando de O Primo Basílio, de Eça de Queiroz.
E como compreender um romance escrito no século 19, mais precisamente em 1878?
Como entender as posições assumidas e defendidas pelo autor nesse e em outros romances seus, como O Crime do Padre Amaro (1875) e Os Maias (1888)?
Só se consegue captar com muita veracidade a visão de mundo dessas obras literárias situando-as no contexto em que foram concebidas. E compreender uma obra significa aprender o diálogo sustentado em seu tempo. O Primo Basílio, por exemplo, foi escrito em Portugal, na época de uma corrente literária chamada Realismo.
O Realismo valorizava a objetividade e as situações cotidianas. Pretendia expor os fatos tais como eles são, sem fantasias e insinuações. Buscavam retratar a sociedade de maneira mais real e concreta. A vida como ela é, lembremos do nosso Nelson Rodrigues.
Por isso, as obras desenvolvidas nesse período descrevem objetivamente e de maneira mais fiel possível a realidade e as personagens que a compõem.
Aqui no Brasil, essa escola literária resume-se a dois grandes autores: Raul Pompéia e Machado de Assis, este último conseguiu o maior legado artístico realista mesmo tendo iniciado suas produções em pleno Romantismo. Memórias Póstumas de Brás Cubas marca o início do Realismo no Brasil. Sem falar que, Dom Casmurro, também de Machado de Assis, tem a maior temática do realismo mundial – a traição. 
Mas, voltando ao romance que eu estou lendo, O Primo Basílio, nota-se que a traição está muito em evidência, fazendo um contraponto com o comportamento da burguesia, responsável pelos destinos político, econômico, social e moral do país. Dentro dessa perspectiva, torna-se indispensável que o escritor atue como o homem de bem, lúcido, cuja obrigação é a de dar uma bengalada em toda a podridão social vigente.
Há nessa escola literária algo que se assemelha aos tempos atuais. O Primo Basilio, de Eça de Queiroz, critica a família pequeno-burguesa de Lisboa. Apresenta um tipo triângulo amoroso, formado por personagens sem caráter e com muitos defeitos - tão realista como nos tempos atuais que estamos cansados de vivenciar nas redes sociais.