O soltador de pipas
No início dessa semana quando eu estava voltando para casa depois de deixar o carro na oficina, e passando por um bairro mais afastado do centro, vi dois meninos soltando pipa, papagaio ou rabiola como alguns chamam em seus diversos nichos locais. Neste instante me veio uma série de recordações de minha infância em que brincávamos de soltar pipas com os amigos de nossa rua e de outras também mais afastadas.
A brincadeira de soltar pipa oferece um vasto leque de benefícios para o desenvolvimento de nossa coordenação motora, possibilitando uma enorme possibilidade de um desenvolvimento emocional, social e cognitivo das crianças. E brincar faz parte desse desenvolvimento infantil, uma jornada repleta de descobertas e aprendizado. As crianças, em sua curiosidade natural, exploram o mundo ao seu redor por meio das atividades lúdicas, adquirindo habilidades essenciais e desenvolvimento emocional que moldarão seu crescimento.
Com o período de férias escolares iniciando, muitos ainda aproveitam essa diversão tão antiga. E soltar pipa é uma dessas atividades que oferece esses benefícios. Uma brincadeira aparentemente simples, mas que estimula e promove interações sociais valiosas, ensinando compartilhamento, colaboração e comunicação. A criatividade também floresce ao personalizar as pipas com designs únicos e cores vibrantes. E, é claro, ensina sobre responsabilidade, cuidado e regras de segurança essenciais, como não usar linha com cerol – embora essa prática era comum na minha infância.
Empinar pipa é uma tradição antiga oriunda da China e que sempre cativou crianças, adolescentes e até mesmo adultos. Ela também já foi arma de guerra. Os chineses a usavam militarmente para transmitir sinais diversos com suas cores, desenhos e movimentos no ar. Ainda hoje essa prática de comunicação é usada nos morros pelos traficantes ao anunciarem a chegada da polícia no local.
As pipas chegaram ao Brasil com os colonizadores portugueses em 1596. No Quilombo dos Palmares elas eram utilizadas para informar a todos se algum perigo se aproximava.
Hoje, as brincadeiras mudaram bastante sendo substituídas na maioria das vezes por brinquedos eletrônicos. Embora muitos ainda praticam essa atividade, nunca devemos deixar de lembrar que é preciso ter cuidado com essa diversão. Esse vilão, o cerol – uma mistura de cola e vidro usada para passar na linha no intuito de “cortar” a do outro -, acaba se tornando uma arma perigosa. Por ser um material cortante, que funciona como uma gilete, pode causar os mesmos ferimentos iguais aos provocados por uma navalha. Sem falar nos riscos de acidentes de trânsito onde as crianças se expõem ao empinar a pipa próximo à rede de alta tensão ou vias públicas.
No livro “O caçador de Pipas”, de Khaled Hosseini, que narra a tocante história de amizade entre Amir e Hassan, dois meninos que vivem no Afeganistão da década de 1970, mostra o quanto essa atividade lúdica atravessa fronteiras e barreiras, transformando uma simples brincadeira em algo relevante na vida das pessoas. Li e recomendo.