Série de vícios
Nosso país é conhecido tradicionalmente por algumas paixões: carnaval, futebol, caipirinha e novela. Nos últimos anos, no entanto, o brasileiro ganhou o hábito de grudar em uma tela, seja de TV, tablet ou celular, para maratonar (nem sei se esse termo existe) séries importadas de outros celeiros culturais.
Foi criado uma patologia televisiva altamente viciante. Essas séries importadas pelas plataformas de streaming fazem maior sucesso entre o público de todas as idades. Quem não lembra da febre que causou La Casa de Papel? O seriado criminal sobre um bando que invade a casa da moeda da Espanha com o insólito intuito não de roubar, mas de imprimir dinheiro, tinha um roteiro bobinho, mas fez surgir uma nova mania no Brasil percebida pelas grandes plataformas – a de maratonar as séries que são importadas de diversos países.
E a Espanha é uma dessas exportadoras de sucesso, se destacando nos catálogos com diversas tramas para os diversos gostos tupiniquins. É uma tendência robusta alimentada pelas mudanças tecnológicas. Na televisão de antigamente as pessoas não tinham tanta opção de séries e filmes disponíveis para escolher. Agora, são milhares que, eu mesmo, passo horas escolhendo o que assistir, o que torna certamente irritante, por mais que seja paradoxal, já que a quantidade disponível faz você “perder” um certo tempo nessa garimpagem.
Por décadas, de fato, a maioria dos países consumia essencialmente, sua eventual safra local de séries ou grandes produções importadas de língua inglesa – em geral vindas da máquina de entretenimento de Hollywood, com toda a sua facilidade de distribuição mundial. O acesso a seriados de outras culturas foi facilitado com a “acessibilidade” da TV paga.
Claro que há espaço para todos nos catálogos dessas plataformas, e a TV aberta ficou cada vez mais em segundo plano já que a disputa é muito desleal com essa infinita capacidade de veicular e armazenar conteúdo na internet nessa era cada vez mais digital.
Garimpar é a melhor forma de matar essa curiosidade nessas séries exóticas e outras de qualidade surpreendente. Vai do gosto de cada um. As plataformas, com suas imensas bases de dados sobre os hábitos dos seus espectadores, devotam-se no momento do desdobramento natural do fenômeno – a criação de uma genuína indústria mundial das séries. Da Alemanha à Índia há produções de agradar a todos os gostos e paladares, e o Brasil está inserido nesse contexto por ser o grande filão dessas operadoras.
Não poderia concluir esse texto sem deixar de falar nos dramas sul-coreanos que fazem maior sucesso principalmente entre o público jovem: Doramas. Algo que se tornou um fenômeno por conta da identificação com a vida real dos brasileiros. Os conteúdos turcos trazem dinâmicas mais próximas das novelas brasileiras, mostram diferenças de classes sociais em uma sociedade estruturada essencialmente para o ocidente tocando em temas universais, com tramas repletas de reviravoltas. A Turquia é o terceiro maior exportador de séries roteirizadas do mundo – atrás dos Estados Unidos e Grã-Bretanha.
E as plataformas de streaming notaram esse fenômeno e começaram a investir nesse tipo de conteúdo tornando viciante e dando prazer oferecendo pouquíssimo risco à saúde.