Solidariedade tem nome e sobrenome
Por mais que tentemos escrever sobre solidariedade, as palavras não são suficientes para expressar a beleza e a leveza de um gesto humano no momento em que o seu semelhante mais precisa.
A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana, e ela aparece em sua plenitude justamente onde não se espera nada em troca. Por ser um valor capaz de requalificar, permite reconstruir o tecido esgarçado da cidadania, é o princípio fundamental e inegociável da consideração para com o próximo. Deus antecipa-se no gesto de reconciliação com o ser humano, deixando uma lição fundamental de que é preciso escancarar a importância do outro. Esse principio tem força de equilíbrio, pois conduz a civilização na direção humanística que permite superar crises.
As consequências da crise climática no rio Grande do Sul mostram que diante de uma tragédia, o que se vê além do caos, é o ato genuíno de compaixão, que nos lembra daquilo que nos foi ensinado em parábolas cristãs, mas que pouco sentido fazia até que nos deparamos nós mesmos com o bom samaritano que cada um pode ser quando a frieza do seu coração se dissipa diante do sofrimento alheio.
Uma situação devastadora com mais de um milhão de pessoas impactadas, mais de cem mortas e desaparecidas, um cenário de guerra realmente, mas que foi alertado pela ciência há décadas, como dizem os noticiários, e que hoje é parte da nova realidade do clima.
Infelizmente, eventos climáticos extremos como esse está cada vez mais intenso e frequente e, para enfrentar esse cenário de emergência climática, precisamos de políticas públicas concretas que apontem para adaptação das cidades e para uma cultura de prevenção.
O que podemos fazer também em respeito à dor daquele que padece é limitar os nossos comentários esdrúxulos – para usar um eufemismo - e educar nossa língua ferina usando a tecnologia disponível para ajudar e não ficar apontando culpados em uma catástrofe ambiental na qual todos estamos enredados. A solidariedade não se submete à partidarismo e a luz brota do coração humano quando ele se vê fortemente inclinado em direção a quem necessita de ajuda, deixando de lado o oportunismo que nessas horas, infelizmente, aparece latente.
Fica o gesto de quem estendeu a mão, de quem entregou um cobertor, de quem arriscou a própria vida, de quem cedeu seu tempo no intuito singelo de colaborar com seu irmão. Ajudar o outro trás benefícios não só para quem está necessitado, mas nos alimenta também, nos beneficia, faz a gente crescer como pessoa e nos dá esperança de um mundo cada vez melhor.
O apóstolo Paulo indica o caminho a seguir: “Assim como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate por muitos”. E sim, solidariedade tem nome e sobrenome: Brasileiro da Silva.