Caipira da terra
Existem palavras, às vezes até neologismos, que aparecem como moda impulsionadas pelo mercado consumista. Cerveja artesanal, queijo artesanal, ovo gourmet, hamburguer artesanal, enfim, são incutidas expressões de apelo comercial para que se possa diferenciar o produto, senão pela qualidade, mas pelo seu valor.
Gourmet e artesanal viraram palavrinhas de efeito pendurada no final dos nomes de bares, restaurantes, confeitarias, empórios e produtos, um adendo vazio para tentar agregar valor.
Essas palavras invadem os cardápios e anúncios, se transformando em termos elitizados e diferenciados.
Na minha humilde opinião, artesanal e gourmet é o que minha mãe faz na sua cozinha transformando temperos e guloseimas em arte – algo quase que impossível de se explicar simplesmente por apenas duas palavras.
Mas, vamos se ater ao que se propaga hoje em dia. Vamos esquecer aquela galinha que se diz caipira, mesmo morando na cidade.
Esses termos gastronômicos da vez, até que tem seu lado positivo. Por um lado, esse comportamento vem de um resgate afetivo da forma de se cozinhar. Por outro, indica uma evolução do paladar do consumidor, mais atento para a diferença entre o sabor do que é massificado ou não.
Mas, será que aquele bolo artesanal da vovó, essencialmente caseiro, ficou para trás, dando lugar para práticas mais avançadas em relação a ingredientes, técnicas e possibilidades?
Acho que não. Aquela ideia muito romantizada do alimento feito por um pequeno produtor em uma casinha no campo, apenas precisa ser modernizada acompanhando a evolução do mercado. Quando se ouve “artesanal” uma voz lá no fundo nos remete ao rústico, e não feito de qualquer jeito.
O que se ver é que esse tipo de produção tem ganhado cada vez mais espaço justamente por primar pela qualidade. Na essência, é aquele produto que tem um maior respeito pelo ingrediente e pela receita, sem acelerar os processos naturais, como é comum na grande indústria, que é mais preocupada com volume.
Há de se ter um olhar especial para esse tipo criação. Toda cozinha tem sua marca no passado, na história da cultura da sociedade, a história do seu povo e da nação à qual pertence. Na Europa, por exemplo, há produtores de queijo que deixam de produzir por um tempo quando notam que o leite não tem a mesma qualidade.
No ramo da cerveja, por exemplo, a onda criou uma verdadeira revolução, fazendo com que até empresas gigantes passassem a se preocupar com o barulho feito pelos pequenos e médios produtores.
Dá para raciocinar que, nessa linha de pensamento, o que se faz em grande quantidade, perde a qualidade em detrimento do que é feito em pequena escala, ganhando o rótulo de artesanal. Lembrei das minhas aulas de Teoria da Comunicação, na UFMA, discutindo teorias de filósofos como Walter Benjamin e sua teoria da reprodutibilidade em grande escala de determinado produto, tirando a sua áurea.
Mas, realmente o que se vê hoje, com a grande quantidade de tecnologia empregada na produção de muitos produtos, faz com que esses termos artesanais ou gourmet, servem somente para diferenciar muito mais no valor do que realmente na qualidade.