VALE TUDO
Há sete décadas, as telenovelas brasileiras, tidas como “obras abertas”, mantêm um público fiel e se sustentam como produtos rentáveis. Porém, no entanto, as obras enfrentam nesses tempos de pós-pandemia, uma perda significativa de seu público, tendo que se reinventarem como “obras fechadas”.
Diante disso, a Rede Globo vem apelando para os chamados remakes – que são regravações de grandes sucessos na busca de mais empolgação para quem acha que novelas de antigamente são melhores dos que as atuais.
Produzir novas versões de novelas de sucesso é uma saída para os problemas que a emissora vem enfrentando com a perda cada vez mais de audiência nesses horários. E o custo pode-se dizer que diminui já que o canal usa roteiros prontos que precisam apenas de atualizações. É o que fez Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, com o sucesso da segunda versão de “Pantanal” – produzida originalmente pela TV Manchete em 1990. E, recentemente, acabou de estrear “Renascer” que é mais uma de suas adaptações.
Com equipe enxuta de roteiristas e menos estrelas, a Globo encontra nos remakes um formato de ótimo custo-benefício. Uma novela do tipo já começa em vantagem por habitar a memória afetiva dos telespectadores que assistiram a trama original e despertar a curiosidade das novas gerações.
Esses remakes tornaram-se comuns nos últimos tempos na televisão. Reescrever um antigo sucesso chega a ser uma tarefa ingrata para adaptadores que não foram os criadores da obra original. Muitos saudosistas criticam as regravações porque não conseguem ter a mesma impressão e sensação que tiveram quando viram a obra pela primeira vez. Como assim? E não vão ver mesmo! Isto é praticamente impossível. Uma telenovela diária é fruto de um momento, tanto na sociedade quanto na vida do telespectador. As coisas mudam. O país, a televisão, os valores da sociedade de mais de trinta anos atrás são completamente diferentes da atualidade. O mundo é outro, a tecnologia evoluiu, os valores mudaram, e a forma de fazer televisão também mudou. Ajustes e adaptações são absolutamente necessários.
Por tanto, cada remake tem de ser visto desprovido de qualquer saudosismo. É uma novela nova para ser vista com gerações que não tiveram oportunidade de acompanhar a apresentação original.
A forma como os brasileiros pensam os laços de amor, amizade, família e as relações humanas mais essenciais passa muito pelo jeito como nossas histórias foram e ainda são contadas pelos talentos da nossa dramaturgia. A telenovela também reflete o país que somos e queremos ser. Ela continua sendo janela e espelho.
Temas como clonagem humana, vida após a morte, eutanásia, doação de órgãos, racismo, dependência química, homoafetividade, machismo, feminicídio e crime ambiental foram sempre retratados e seguem em pauta nas novelas brasileiras. As novelas foram cada vez mais assumindo a característica de falar do seu próprio povo e continuam a dizer sobre nossa própria história cultural, sobre nossa própria realidade, sobre quem fomos e quem somos.
O fato é que há anos os folhetins são parte do cotidiano brasileiro, de forma até as histórias pessoais dos telespectadores se entrelaçarem com as das tramas que assistem. O gosto do brasileiro por esses folhetins é tão grande que mesmo sendo cópias de sucessos passados, geram intensas discussões nas redes sociais. E como dizia o saudoso Chacrinha, “Na televisão nada se cria, tudo se copia”.