O SHOW DA VIDA
O brasileiro ama reality show. É o um dos gêneros mais consumido na televisão dos lares nacionais, e durante a pandemia da COVID-19, o consumo do gênero se intensificou mais ainda. É aficionado por entretenimento audiovisual e gosta de se ver na tela de uma TV. Antigamente, os personagens e suas histórias das novelas serviam de inspiração. Hoje, a busca é muito mais pela representatividade: região, religião, classe social, bandeiras e valores, sexualidade e estilo. Estes são importantes elementos de identificação que, no caso de reality show, são ampliados pelo fator “gente real, como a gente”.
Há momentos inclusive em que leva o espectador a se colocar no lugar de um participante e avaliar suas decisões, pensando se faria igual ou diferente, se estivesse na mesma situação. Destaca-se o fator mais orgânico destes programas que, ainda que siga uma rotina, tenha regras e uma linha pré-determinada, não seguem um roteiro justamente por serem uma não-ficção, o que pode levar desdobramentos inesperados às histórias que ali se apresentam. Isso prende a atenção do público, que anseia pelos desfechos e torce para seus participantes favoritos. E ainda há a possibilidade de julgar e ter um certo controle sobre essa realidade, quando pode interagir e definir questões do programa, fazendo que o interesse aumente cada vez mais.
O engajamento do público reverbera os acontecimentos dos programas, mas vai além, são capazes de ampliar estes momentos, dando ainda mais visibilidade e repercussão. Suscitam pautas e debates, popularizam bordões e itens de moda, confirmam tendências.
O mais conhecido, o Big Brother Brasil, consiste no confinamento de um número varável de participantes de diferentes origens, idades, profissões, personalidades, em uma casa cenográfica, sendo vigiados por câmeras 24 horas por dia e privados de conexão com o mundo exterior e dos meios de comunicação de massa. Os participantes têm como objetivo permanecer na casa até o último dia, quando a audiência escolherá, por meio de voto, quem será o vencedor do grande prêmio final.
O primeiro “Big Brother” surgiu na Holanda em 1999. John de Mol, um executivo da televisão holandesa, teve a ideia de criar um reality show onde pessoas comuns seriam selecionadas para conviverem juntas dentro de uma mesma casa, vigiados por câmeras, 24 horas por dia. O nome Big Brother faz referência ao personagem Grande Irmão do livro 1984, de George Orwell. A tradução literal é “grande irmão”.
O romance, que aliás, eu já li, mostra um futuro utópico, no qual a sociedade tem sua liberdade cercada por um governo vigilante – que supervisiona tudo, com câmeras instaladas dentro de cada casa. O “Grande Irmão”, às vezes é o apresentador do programa e, geralmente, é o único contato com o ser humano que os participantes têm com o mundo fora da casa. Ao assumir essa função, o apresentador passa a instruir psicologicamente os participantes, com orientações e questionamentos em cima do que está acontecendo dentro da casa.
Gostando ou não desses reality shows, é preciso admitir que eles vão seguindo e ditando tendências por muito tempo. Questionamentos por sua qualidade vão sempre haver, mas, como diz o ditado, “falem mal, mas falem de mim”.