Viajar é preciso
A humanidade tem registrado suas jornadas desde que o mundo é mundo. O primeiro livro de viagem é creditado ao grego Heródoto, que em 440 a.C. escreveu As Guerras Persas. Os cidadãos atenienses, em grandes assembleias, ouviam boquiabertos as façanhas de seu exército naquelas terras distantes. Ao longo do tempo, homens como Marco Polo, Pero Vaz de Caminha, Colombo, Charles Darwin, Mark Twain, Mario de Andrade, Euclides da Cunha e tantos outros falaram dos destinos onde estiveram em diários, cartas, crônicas, ajudando também a fazermos essas viagens através dessas leituras, e talvez, depois, in loco.
É tão fascinante, quanto difícil, descrever sobre aquela viagem inesquecível. É como querer estimular os cinco sentidos através da escrita e colocar em um único texto, em algumas linhas e com algumas palavras, registrar esse momento único – o de viajar a passeio.
Uma vez eu li que, Londres, entre novembro e março, não é muito bom pra conhecer. A não ser que se tenha uma fraqueza por figuras como Jack, o Estripador, o conde Drácula ou os sombrios mordomos da velha dama Agatha Christie. Já no final de outono, com o dourado das árvores, Londres é tudo aquilo que se vê nos filmes de várias comédias românticas inglesas. Os encantos da Tailândia nos catálogos de turismo são insuficientes para traduzir a fascinante Bangcoc, ou a água verde-esmeralda da baía Maya, em que Leonardo DiCaprio filmou A Praia. Tailândia é céu e inferno, não existe meio termo. E Cruzar os 800 quilômetros que separam a vila basca de Roncevalles e a cidade galega de Santiago de Compostela, no norte da Espanha, muda a vida de qualquer homem. O Diário de Um Mago, tornou-se o primeiro best-seller de Paulo Coelho. Ele ratifica que ali ele virou escritor, depois fazer essa peregrinação.
O que eu quero dizer é que viajar a passeio é sempre legal. Em boa companhia, melhor ainda. E nós precisamos viajar. Por nossa conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisamos viajar por nós mesmos, com nossos olhos e pés, para entender o que realmente nos pertence. Para um dia plantar as nossas próprias árvores e dar-lhes o devido valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Precisamos viajar para lugares que não conhecemos e quebrar essa arrogância que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.
Dizem que a primeira vez é sempre muito especial e inesquecível, seja pelos prazeres e descobertas, seja pelas burradas ou mesmo pelos dois, afinal, qual seria a graça se não existisse em nós a vontade de descobrir, de conhecer o novo?
Uma viagem inesquecível fica marcada eternamente em nossas mentes e em nossos corações. Ficamos gratos pela viagem fantástica, pelas descobertas culturais, pelas aventuras surpreendentes e pelos novos conhecimentos adquiridos. As lembranças de uma viagem inesquecível nos marcam como cicatrizes de saudades na mente.
Todo mundo tem uma viagem inesquecível. Seja pelo lugar, pela companhia ou pelos ambos motivos, não importa quanto tempo durou nem quanto tempo foi, o roteiro fica na lembrança e a vontade de um dia voltar e poder reviver novamente bons momentos naquele lugar, permanece. São momentos singulares vividos intensamente, outros que poderiam ter sido mais aproveitados independente de qualquer análise.
Quando marco uma viagem e tenho que acordar às cinco da manhã, com o barulhento despertador, desperto diferentemente das outras vezes, mesmo no melhor de nossos sonhos. Na verdade, você parece que não dorme, com muita vontade de se levantar, com um misto de ansiedade e prazer, e isso mostra que precisamos realmente dessas viagens.