Adaptando sonhos
As páginas de um livro bom têm o poder sobrenatural de nos transportar para o mundo dos sonhos. Apresentam personagens memoráveis e contam histórias que permanecem conosco muito tempo depois de termos concluído essa leitura. Ficamos em êxtase ao relembrar cada detalhe dessa trama que acabamos de desfrutar.
Mas existe algo igualmente mágico e eterno – quando essas tramas ganham vida na tela grande, tornando-se algumas das melhores adaptações da literatura para o cinema. Fácil? Nem tanto.
Fazer uma adaptação não é uma tarefa muito fácil. Mesmo porque somos levados a acreditar que a narrativa de um livro e o visual que nossa mente projeta naquele momento não pode ser mudada por nada. Quem lê, constrói cada detalhe mentalmente, enquanto o filme será construído com a visão de outra pessoa.
O casamento entre literatura e cinema tem sido uma longa tradição, no entanto, nem todas as adaptações cinematográficas fazem justiça aos livros em que são baseados. Às vezes, ficamos desapontados quando elementos queridos da história original são alterados ou omitidos. Embora, muitas das vezes, um filme não só captura a essência do livro como também expande e aprimora a história de maneira que a tornam ainda mais rica e envolvente, tornando a criatura maior que seu criador.
O Poderoso Chefão, escrito por Mario Puzo e publicado em 1969, por exemplo, é uma das melhores adaptações literárias para o cinema. Francis Ford Coppola, ao adaptar a obra para em 1972, trouxe sua própria genialidade ao material original contando a intrigante vida da família Corleone, uma das mais poderosas da máfia siciliana nos Estados Unidos.
Adaptações cinematográficas são como bomba-relógio na mão de um diretor, que mesmo fazendo o melhor trabalho de sua carreira, é quase impossível obter uma recepção unânime dos fãs daquela obra original. Mas mesmo com essa dificuldade toda, há quem consiga entregar um trabalho que chegue perto de agradar gregos e troianos (para quem não sabe, esse ditado “agradar gregos e troianos” é em relação a esses dois povos muitos distintos em seus costumes e pontos de vista). Há filmes, inclusive, que acabam sendo mais famosos e populares do que os livros que os originaram, como é o caso de O Poderoso Chefão, citado logo acima.
Adaptações sempre geram polêmicas e debates intermináveis sobre a obra original e sua transposição para a tela do cinema. Seja livro, quadrinho, videogame, a mente de um fã é quase sempre levada a acreditar que a narrativa e o visual que ele construiu em seu sonho particular, seria o melhor resultado possível para a construção audiovisual.
Um outro exemplo de sucesso de adaptação que eu posso citar é O Silêncio dos Inocentes, de Thomas Harris. Publicado em 1988, é um thriller psicológico que segue a jovem agente do FBI, Clarice Starling, enquanto ela busca capturar um assassino em série conhecido como Buffalo Bill. Para isso, ela busca a ajuda de Hannibal Lecter, um brilhante psiquiatra e canibal preso. O livro é notável pela construção de personagens e pelo suspense crescente, e a adaptação para o cinema, lançado em 1991 e dirigido por Jonathan Demmer, é muitas vezes consideradas uma das melhores adaptações de livros para o cinema.
Para que haja pelo menos uma proximidade em uma satisfação unânime, a arte da literatura e a magia do cinema têm que estar entrelaçadas de maneira magnifica. Talvez a melhor maneira de se julgar uma adaptação literária para o a telona seja, não pelo grau de fidelidade literal à obra original, mas por sua eficácia em adequar para um meio estético uma história contada visualmente. Ao adaptar essas descrições para o cinema, os cineastas podem criar cenas visualmente impressionantes e emocionantes em nossos sonhos.