Rspeitável público...
O circo, na vida de muita gente, principalmente os mais de 40 anos, faz parte de uma lembrança prazerosa e nostálgica. Nos faz repensar os espetáculos que eram apresentados sob àquelas lonas imensas com suas arquibancadas de madeira. Quando chegavam nas cidades mais distantes com suas caravanas a anunciar as atrações daquela noite encantada que estava por vir, era um prenúncio de uma noite mágica na acepção da palavra.
Na verdade, o circo é um lugar mágico, que nos remete às vivências e sensações incríveis nos fazendo viajar na beleza das cores, na alegria dos palhaços e nas acrobacias e aventuras dos trapezistas. Sendo uma manifestação artística e popular, que consiste em um grupo de artistas com habilidades distintas, a arte circense sempre fez parte da área cultural e educacional do nosso país, proporcionando, através de seus espetáculos, oportunidades de conhecimento e diversão a lugares mais longínquos do país com seus shows itinerantes. E tudo isso relacionado com as comunidades ciganas, que levavam uma vida nômade, sempre se mudando de lugar. O tempo foi passando e o “novo circo” foi se adaptando às novas tecnologias e à influência de outras linguagens artísticas como a dança e o teatro.
O uso de animais foi gradativamente desparecendo, uma vez que tais animais por vezes sofriam maus-tratos. Durante muitos anos, as companhas circenses foram as únicas responsáveis por levar espetáculos culturais para todos os cantos do país, principalmente os mais isolados e carentes. A magia dos espetáculos ficava refletida nos olhos brilhantes e arregalados da criançada contribuindo no seu desenvolvimento educacional. Fui assistir há uns cinco anos atrás, com meus filhos, um espetáculo armado com uma tenda em um estacionamento de um shopping, limitado para poucos. Com jogos de luzes, cenários gigantescos e coloridos, e com arquibancada confortável em um espaço climatizado e, claro, com um “preço” a se pagar por tudo isso. As atrações realmente chamam atenção do respeitável público, mas que camufla a pureza e a leveza de uma apresentação sob àquelas antigas lonas e seus bancos de madeira. Nesse contexto, é possível entender que a relação que existe entre o público e o artista de circo é mais do que um grande espetáculo. A relação gera oportunidade de conhecimento, igual como antes, mas ofuscada pela áurea mecânica que párea no centro do picadeiro como se proclamasse ali naquele momento a modernidade do tempo. Onde estão aqueles artistas circenses de antes? Cadê aquele palhaço que me fazia rir até deixar cair o saquinho de pipocas? Pois é, ficou pelo caminho dos semáforos da vida esmolando um trocado em seus pequenos espetáculos segundados pelo tempo de abrir novamente a passagem dos carros. Ou você pode rever em telas de 50, 60, 70 polegadas em 4k, em alguma plataforma de streaming o filme de Selton Mello “O Palhaço”, de 2011, e chorar de emoção. Por hora, o “respeitável público” terá que se contentar com a modernidade – que traduz um paralelo entre o espetáculo ao ar livre e a exuberância das lonas de shoppings.