A sensibilidade das videolocadoras
Quem não lembra de entrar no seu lugar preferido em busca de um título e acabou levando mais um, mais dois ou três filmes distintos da busca original, justamente pelas recomendações ou comentários de outros amantes de cinema?
Pois é. Estou aqui falando de videolocadoras e a sensibilidade que elas nos proporcionaram entre as décadas de 1980 ao início dos anos 2000. Eu mesmo tive uma. Philadelfia Vídeo. Quem estiver lendo este texto e conheceu esse tipo de estabelecimento, lembrará dessa locadora localizada entre os bairros da Vila Palmeira e Radional. E, como tantas, também fui sucumbido pelas novas plataformas tecnológicas de entretenimento e, claro, também pela pirataria.
Elas já foram um grande negócio rentáveis para seus proprietários. Pontos de encontro e refúgio seguro de familiares em noites chuvosas. Hoje estão só na saudade de quem viveu esse período.
Na época, vivia-se ainda a febre dos videocassetes, e alugar uma fita de vídeo VHS era um programa mais que familiar. Era uma atmosférica única que envolvia aquele momento de confraternização na escolha minunciosamente de um filme.
A troca de informações, as visitas semanais e as recomendações e sugestões – dadas sempre que um cliente solicitava – são alguns dos momentos que os familiarizados com locadoras não vão esquecer. Passar horas naquela imensidão de sessões de terror, romance, comédia, ação e muito mais, escolhendo, lendo a frente e verso da fita, com aquela sensação ímpar quando finalmente encontra o que procura. Tem dublado? Era uma pergunta frequente.
As videolocadoras passaram por fases dentro do mercado: no início, entre os anos 80 e 90, os filmes vinham em fitas VHS. Depois de um tempo, as grossas fitas retangulares deram espaço aos DVDs e logo depois surgiu uma mídia mais avançada e com mais qualidade chamada Blu-ray. E ir a uma locadora era um hábito comum recheado de prazer. Sozinho ou com a família, o importante era a intenção daquele momento mágico. A partir dos anos 2000, a oferta de filmes pelas plataformas de streaming fez a demanda pelas locadoras cair vertiginosamente, provocando o fechamento desses estabelecimentos.
Presenciei muitas emoções na minha locadora – aliás, o slogan da Philadelfia Vídeo era “A sua maior emoção” -, muita euforia principalmente numa sexta-feira ou véspera de feriado, quando as locadoras faziam promoções atrativas em seus acervos. A sensibilidade à flor da pele ao ver a satisfação de um cliente que acabara de adquirir um aparelho videocassete e fazer sua primeira locação. A expectativa que era criada cada vez que se colocava um cartaz de um filme que até pouco tempo estava nos cinemas: “já Chegou?”. Não, chega dia tal. É uma sensação nostálgica, muita dedicação e amor a um segmento do entretenimento voltado à Sétima Arte.
Hoje, esses hábitos são substituídos pelo vasto catálogo de downloads na internet, serviços de streaming e o acesso cada vez mais facilitado da TV por assinatura, que além de agilidade e conforto, oferecem vantagens financeiras em apenas um clique. É a tecnologia modernizando e facilitando nossa vida, mas também nos tonando insensíveis em tudo, moldando o nosso jeito mecânico de sentir prazer.
A internet avançou e as locadoras foram deixadas de lado, mas a saudade dos que compartilham essa época boa ainda permanece intacta, sensível, assim espero, aos novos avanços.